Visto por muitos como uma forma de sacrifício ou castigo e,
portanto, como algo totalmente indesejável, o trabalho pode (e deve) ser
analisado sob uma ótica mais positiva, se pretendemos ser felizes.
Não são poucos os que acalentam o sonho da aposentadoria,
ou das próximas férias, ou feriado prolongado, ou, ainda na falta de coisa
melhor, do próximo final de semana, que os libertará da terrível carga do
trabalho. E há ainda aqueles que sonham (ou fantasiam) ganhar na loteria, o que
tornaria tudo maravilhoso.
E
quando chega a segunda-feira, ou o retorno das férias, ou ainda o resultado da
loteria, para muita gente, é triste ter que retornar ao seu posto de trabalho.
E para estes, é muito triste saber que, ao longo da vida, estarão a maior parte
do tempo trabalhando.
Mesmo quando chega a tão sonhada aposentadoria (que para
muitos têm sido um pesadelo), muitos têm que continuar trabalhando por mais um
(bom) tempo, pois geralmente o valor recebido não é suficiente para a
manutenção do padrão de vida que conquistaram.
O que podemos concluir com isso é que ou somos felizes
trabalhando, e para isso é preciso conhecer e apreciar o valor do trabalho, ou
seremos apenas parcialmente felizes (e também, parcialmente infelizes).
Mas, o que podemos ter de valor no trabalho, além do
salário?
Considerando apenas os pontos de vista explicitados acima,
bem pouco. Mas, felizmente, há outros que podemos considerar.
Não foram poucos os homens, grandes homens, que disseram
que a conquista não é coisa que dependa das circunstâncias, mas, justamente, da
superação delas; na capacidade humana de, por meio das dificuldades oferecidas
pelas circunstâncias, pelos problemas do dia-dia, superar suas limitações e
conquistar novas possibilidades. Desvendar forças escondidas, habilidades não
exercitadas, poderes latentes...
Não precisaríamos ir longe para exemplificar a validade
desta ideia. Para fazer um bom trabalho temos de exercitar vários tipos de
habilidades.
Imaginemos que temos de cavar um buraco no solo (para
plantar uma árvore, por exemplo) e, fazendo isso, vejamos o que podemos
aprender.
É fácil pensar em um buraco, mas nem tanto em cavá-lo, pois
a terra costuma ser pesada e também dura, e para vencer isto temos que:
-
Ser flexíveis e fortes, pois, se formos rígidos, machucamo-nos e, se fracos, não conseguiremos
cavar, e estas são habilidades do corpo;
- É
necessário também ter ritmo, pois sem ritmo nos cansamos rapidamente e/ou não
conseguiremos realizar a tarefa, e vemos aí uma habilidade no uso de nossa
energia;
-
Também precisamos desenvolver a paciência, pois tudo tem seu tempo, e há que
respeitar isso, e também responsabilidade, para chegar até o final do que nos
propomos a fazer (nos comprometemos a plantar a árvore, e se não o fizermos,
ela poderá morrer), e aí lidamos com nossos sentimentos;
- E,
finalmente, precisamos de um plano, pois, sem isso, um simples buraco será uma
tarefa difícil de ser realizada (podemos cavar no lugar errado ou na
profundidade incorreta para a planta que temos), e o trabalho será mal feito, e
vemos aí um exercício mental.
Imaginemos cada tipo de trabalho que realizamos na vida, de
uma simples tarefa de lavar a louça ou limpar o chão, aos mais difíceis e
complexos, como construir um prédio ou gerenciar uma empresa, com todas as
etapas e dificuldades que implicam. O quanto podemos aprender com cada um
desses trabalhos?
Então, o trabalho não é verdadeiramente trabalho, como hoje
o concebemos, é na realidade uma escola de vida. Um poderoso elemento de formação.
Com ele podemos aprender simplesmente de tudo, desde o domínio de nós mesmos
até o das coisas ao nosso redor. O trabalho torna-se uma verdadeira ferramenta
de poder.
Então, não está errado o famoso dito popular, repetido por
muitos, mas nem sempre compreendido, de que “o trabalho dignifica o homem”. É
uma mostra da sabedoria popular, a cujas frases deveríamos prestar mais
atenção, e refletir mais sobre seu significado.
Ao estimado leitor que dedicou um tempo a ler estas linhas,
considere, em sua próxima jornada de trabalho, olhar para seus compromissos com
um novo olhar. O olhar de quem realmente se interessa pelo que faz, porque
conhece o seu valor.
E no próximo final de semana (se já não tiver compromisso),
considere seriamente, ao invés de se entregar ao ócio preguiçoso, fazer uma boa
faxina em sua despensa, guarda-roupa ou onde considere necessário. Estou seguro
de que, além de encontrar vários objetos que, com certeza, não farão falta se
forem doados, sentirá que a faxina surtiu outro efeito, por dentro, em seus
pensamentos e sentimentos.
É bem provável que, na segunda pela manhã, perceba que a
segunda-feira não tem de ser assim tão enfadonha e até poderá lhe parecer um
dia feliz.
Jean Cesar Antunes Lima
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