segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A Filosofia Como Você Nunca Viu

(este texto é transcrição da palestra de apresentação do Curso de Filosofia, ministrada em Brasília pelo presidente da Nova Acrópole Brasil prof. Luis Carlos Marques)

A visão da Nova Acrópole sobre Filosofia:

Hoje nós temos uma visão acadêmica de filosofia, que todos conhecemos, dos cursos dados em faculdades. A nossa visão, a visão da Nova Acrópole, difere um pouco dessa visão acadêmica.

Nós nos fundamentamos na Filosofia à Maneira Clássica, e por FILOSOFIA nós entendemos a busca da Sabedoria. É um conceito vindo de Pitágoras, que dizia que não era sábio, era um buscador de sabedoria, pois ele não tinha a sabedoria. Essa é uma condição muito importante para quem busca, saber que não tem.

Este é um ponto importante, porque mostra que qualquer ser humano quer a sabedoria, quer buscar um conhecimento, isto distingue o ser humano em relação à outras espécies. Ele quer hoje saber mais do que sabia ontem. Isto é uma condição natural do ser humano, a busca da sabedoria.

Às vezes, devido às nossas condições de vida, os nossos interesses vão ficando cada vez mais focados na sobrevivência e esquecemos um pouco esta questão. Mas esta é a nossa base: a Filosofia para todos.

E a Sabedoria, não queremos só buscá-la. Queremos encontrá-la também. E embora a Sabedoria seja a meta final, diante o processo de busca, encontramos um grau de Sabedoria que já nos possibilita aplicá-la na prática, no dia a dia.
A proposta de NA não é só buscar. A proposta é fornecer ferramentas para que a pessoa busque e encontre algum grau de sabedoria.

O que significa para nós “a Sabedoria”?


-  A Sabedoria é uma síntese, uma capacidade que temos de, diante de qualquer circunstância de vida, em função das necessidades próprias do ser humano, conseguir um conhecimento que possibilita manejar qualquer necessidade específica da vida.

O SER humano tem basicamente quatro necessidades específicas de expressão
: artística, científica, política e religiosa.

Podemos multiplicar estas necessidades por outras, mas qualquer uma dessas outras conseguimos sintetizar dentro de algumas destas quatro.

Temos que ter um conhecimento que nos possibilita  lidar com qualquer uma destas necessidades. Exemplo: quando encontro uma lei que se aplica na necessidade religiosa, eu posso aplicar a mesma lei na política, e assim por diante.

A ciência também busca uma lei que possibilita sintetizar os conhecimentos todos que ela tem. Quando ela estuda por exemplo a movimentação dos corpos no universo, ela percebe a presença de quatro forcas que hoje ela classifica como gravitacional, eletromagnética, força forte e força fraca. Só que ela não tem uma lei que sintetiza numa única visão a relação entre essas forças. Então tem alguns movimentos que ela aplica um tipo de conhecimento, epara outro movimento ela precisa de outro tipo de formulação. Então ela busca uma lei que sintetiza tudo.

É a mesma coisa que nós entendemos na Filosofia. Quando por exemplo eu tenho uma visão artística, deve ser a mesma visão que eu tenho que, por exemplo, aplicar na ciência.

Quando eu compreendo uma coisa a partir de uma determinada face da pirâmide, eu preciso aplicar nas outras faces também. Essa síntese, que é sintetizar a compreensão em relação a cada campo do conhecimento, se chama FILOSOFIA.

O que a Filosofia busca?

Uma unidade, uma síntese de todo o conhecimento humano, de tal maneira que haja um possibilidade de você ser sempre a mesma pessoa e coerente com a sua visão do universo e de vida.

Como sei que cada ser humano tem essas quatro possibilidades de expressão?

Em qualquer coisa que analisarmos. Por exemplo, nesta sala, vemos que há uma preocupação em mantê-la esteticamente organizada. Então estamos falando de arte. O querer engrandecer o ser humano, é a política. O microfone que eu uso para a palestra, as técnicas de estudo, o quadro, são a ciência. A capacidade que temos de relacionar as coisas, os mistérios, é a dimensão religiosa.

Às vezes uma pessoa tem um conhecimento político muito grande, um conhecimento cientifico muito grande, ou artístico, e, diante de um problema de vida muito sério, se desconcerta totalmente.

Às vezes uma pessoa tem capacidade de lidar com o desconhecido, com os mistérios, e isso é religião. A arte é a capacidade de lidar com a harmonia. A política é a capacidade de lidar com a relação entre os seres humanos; e a ciência é a capacidade de compreender as leis do universo para que possamos dominá-las e gerar instrumentos, possibilidades de o ser humano lidar melhor com a natureza a fim de melhor a aproveitar e respeitar.

Qual é o problema quando nós não temos uma síntese?

A vida necessita dessas quatro expressões equilibradas. Quando não se tem a síntese, nós criamos uma vida pessoal em que crescem só partes do nosso conhecimento. Às vezes existe um cientista maravilhoso, mas desiquilibrado. Ou um religioso que não entende a vida sob o ponto de vista político ou científico e vira fanático.
Ou um artista que sob o ponto de vista político é um fracasso.
Tem uma arte maravilhosa, mas uma conduta ruim. Muitos se inspiram na droga ou bebida. Isso provoca confusão, principalmente entre os jovens. Eles não entendem que o artista é bom APESAR da bebida, e não que é bom por causa da bebida.

Outro exemplo: podemos ter uma relação ótima com as pessoas, mas não sabemos, por exemplo, lidar com o mistério da morte. Isso gera desiquilíbrio. Aí a pessoa pode chegar por exemplo aos 35 anos, ter faculdade, emprego, carro, apartamento, mas é um angustiado. Alguma coisa está faltando. É como se o corpo estivesse crescendo, mas umas partes não. Fica um braço pequeno e o resto do corpo perfeito. Isso acontece, portanto, quando não se faz uma síntese harmoniosa da vida.

Essa síntese harmoniosa é a proposta da filosofia.É a sabedoria. A sabedoria é a síntese, um conhecimento que me possibilita integrar todos os fatores da vida com os quais eu tenho que me relacionar.

É uma filosofia para atender às nossas necessidades e às da vida.

Como podemos aproveitar esse conhecimento?

A Filosofia, como qualquer outra ciência, tem também uma metodologia. É muito parecido com qualquer outro ramo da ciência aplicada. Ou seja, se queremos aprender qualquer ciência aplicada, como por exemplo a Medicina, a primeira providência que fazemos é buscar a tradição humana. Ou seja, sintetizar todo o conhecimento do passado e  partir desse ponto. Pegar o que de melhor nós temos da tradição e partir desse ponto. A partir desse momento, que já pegamos das pessoas que saibam, partimos para a nossa própria experiência e saímos pela vida aplicando esse conhecimento.

Nós fazemos isso para todas as ciências. A Filosofia não é diferente. Também temos que buscar no passado, porque muitos seres humanos pensaram nessa síntese da vida. Assim como houve Confúcio, Lao Tsé, Platão, Jesus Cristo, Buda, Maomé... ou seja, existe todo o conhecimento passado, como cultura humana, aquilo que foi experimentado (e foi válido em algum momento), nós podemos partir desse ponto.

A primeira etapa do processo de Filosofia é a racionalização. Assemelha-se muito ao processo de desenvolvimento de qualquer ciência.

Vamos buscar na tradição uma forma de organização do pensamento, para termos um ponto de partida, para que a Filosofia não fique uma filosofia parecida com o que chamamos de “filosofia de boteco”, que só se diz o que cada um pensa, mas sem comprometimento nenhum.

A partir do momento em que tenho uma concepção e aplico–a, vou ter uma série de consequências, porque a base de qualquer organização  de conhecimento começa na mente.  Exemplo: construção de uma casa, tem que ter um plano. Primeiro constrói-se a casa na mente. Por isso, com a nossa vida, precisamos saber o que construímos. Precisamos ter uma concepção, uma ideia, fazer um planejamento de vida, construir, e depois curtir a obra.

A filosofia não se prende em campos racionais. Ela usa a razão como elemento de aplicação das ideias. Os filósofos são muito ligados às ideias. Eles querem traduzir ideias em conceitos e conceitos em forma de vida. Esta é visão da Filosofia.

O cientista faz a mesma coisa: ele traduz ideias em conceitos e conceitos em aplicações. Traduz em máquinas, por exemplo.

O filósofo faz a mesma coisa: ele tem ideias que ele capta e traduz em conceitos e experimenta na vida – artisticamente, religiosamente, politicamente e cientificamente.

Como vou traduzir ideias em conceitos? Eu tenho que preparar a mente. Exemplo: Einstein teve ideias e traduziu em ciência. Mozart traduziu em música. Platão traduziria em obras políticas. Ou seja, cada um faz de acordo com o que tem de conteúdo. Se fosse um louco, nada faria. A diferença entre um louco e um sábio é que um sabe aplicar e o outro não. Um sabe sintetizar tudo de forma a utilizar para a sua vida, e o louco fica cada vez mais confuso. Essa é a diferença.

Jung analisava o conteúdo simbólico das visões de ambos e chegava à conclusão que eram as mesmas. Só que um sabia o que fazer e o outro não. Para sabermos o que fazer com as idéias, temos que equacionar o plano racional.

Como equacionar o plano racional?
É a parte mais complexa do nosso curso.

Porque o que é razão? Razão é quando o pensamento se organiza de acordo com princípios universalmente aceitos. Exemplo: um médico, quando sai da faculdade, vai ter que aplicar os princípios que aprendeu. Mas depois ele vai ter que intuir e criar coisas. Porém, antes, a base, tem que ser uma base racional. Platão falava que os deuses deram aos homens uma coisa sensacional, que é a razão e que ninguém faz uso. Por quê?

Porque ao invés de equacionarmos a nossa vida em função de princípios universalmente aceitos, nós equacionamos em função da opiniões e preconceitos sociais.

O difícil do curso de Filosofia é que vamos ter que ter uma linguagem comum. Assim como quem estuda Matemática precisa ter uma linguagem comum (saber somar, multiplicar, etc.). Para falar de Filosofia, acontece o mesmo. Por exemplo, quando vou falar de Justiça com as pessoas, cada um fala uma coisa e não vamos chegar a um comum acordo, porque os conceitos são muitos. Nem sempre os conceitos que temos de justiça, bondade, beleza, são muito bem elaborados. Muitas vezes estão fundamentados em preconceitos e a Filosofia não pode se fundamentar em preconceitos.

A Filosofia se fundamenta numa dialética. Ou seja, todo esse conhecimento que vamos pegar do passado não é, e não pode, ser colocado à força na cabeça das pessoas. Ele é colocado através de um processo dialético, sendo explicado.
No processo dialético nós vamos somando e sempre procurando atender ao máximo de experiências de vida possíveis.

Nós não vamos improvisar sobre a vida. Uma pessoa que vai construir uma casa parte do zero, mas equaciona tudo.

Se nós equacionamos a nossa vida de uma forma que não corresponde à realidade, e a forma como nos relacionamos com as pessoas, por exemplo, está errada, aí há um posicionamento incorreto, uma concepção errada de vida.

Esse é o objeto da Filosofia. Ela mexe no mundo das causas. E as causas são sempre mentais, do subjetivo para o objetivo.

Primeiro as ideias, depois equaciona-se racionalmente, e depois se aplica. A causa é sempre metafísica.

Na concepção de um objeto, primeiro concebe-se nas ideias, depois encontram-se motivações (eu quero fazer), depois arranjam-se recursos, compra-se material, aprendem-se técnicas, etc. e depois faz-se o objeto. Do subjetivo ao objetivo, do metafísico ao físico.

Então a filosofia se propõe a entrar no mundo das causas, mas não ficar presa somente ao mundo das causas.  Por isso complementamos o nosso curso falando que não é só uma compreensão da tradição, através de uma sistematização do conhecimento, mas por meio de uma dialética. Temos que dar um passo a mais. Temos que aprender a aplicar esse conhecimento. A transformar esse conhecimento para a vida. A proposta de NA é escola de filosofia à Maneira Clássica.

É preciso saber traduzir o passado para a nossa experiência de vida. Esse ponto é a essência do que chamamos EDUCAÇÃO. Ou seja, quando eu, por meio de um processo dialético, aprendo a pensar, a organizar o meu pensamento de forma razoável, e, quando eu aprendo a ficar livre dos preconceitos, dos medos, das dúvidas, eu passo a estar livre para começar um pensamento.
É muito importante a liberdade do pensamento do filósofo. Hoje, em geral, não temos liberdade de pensamento.Exemplo: politicamente, se eu quiser questionar a democracia, vou ser mal julgado. Porque partimos do princípio que é a melhor forma de governo e que quem não é assim é tirano, etc, etc. Um filósofo pode questionar esse tipo de coisa.

Hoje em dia a visão que temos de um político é de um demagogo, aquele que tenta agradar a maioria. Isso não é a visão clássica de política. A visão clássica de politica é uma forma de relação perfeita entre os seres humanos, onde eu tenho que encontrar as regras perfeitas de relacionamento, tal como as células diferentes e com diferentes funcionalidades se relacionam num organismo. É a capacidade de harmonizar todos os elementos. Por isso é necessário rever muitas coisas dentro do campo político.

No campo artístico: a arte hoje é  quase que dogmática. Atualmente só algumas pessoas entendem de arte. Então eu já não posso mais livremente pensar sobre arte. É preciso fazer um curso, sobre “como achar bonito coisa feia”...

Cada época tem a sua tônica predominante. A tônica religiosa: eles são os únicos com o direito de interpretar a realidade. Na Idade Média, a terra era considerada plana, e todos tinham que pensar assim.

Ainda existem essas visões. De acordo com as religiões: eles  já pensaram tudo, quem sou eu para pensar?

Conforme as épocas, criam-se alienações. Exemplo, as teorias cientiíicas. Há nelas um monte de alienações. A cada 5 anos surge uma diferente da outra. Há 20 anos, a ciência era totalmente materialista. Hoje em dia a ciência está espiritualista, porque chegaram à conclusão de que matéria concreta, átomos, são só 5% da matéria do universo. O resto não se sabe. Por isso, as religiões sentem todo o direito de falar: o resto é espirito... (aquilo que é chamado de energia negra, matéria escura).

A ciência, como o próprio ser humano, está sempre navegando no campo do desconhecido. Sempre tem uma parte de mistério. Por que eles é que têm que interpretar a realidade para a gente?

No século XVIII, Helena Blavatsky fez uma proposta da origem do universo, que é exatamente igual à proposta que estão fazendo hoje nos campos de Higgs. Blavatsky, então, fez uma proposta filosófica da origem do universo. E por quê? Porque o Universo é quase igual, sob o ponto de vista da ciência ou da filosofia.

Para a ciência, antes do Buraco Negro, o que é que existiu no Universo?
Então, antes de nascer a consciência, o que eu posso falar? Nada... Porque só posso falar de alguma coisa depois que nasce a consciência. Antes é, portanto, o istério. Esse mistério é chamado de Deus, Parabrahman, etc., mas é o mistério que veio antes de todas as coisas. Todos têm que se relacionar com esse mistério: ciência, artes.

Antes do som, o que existia? Antes das cores? Era o preto? E o que é o preto? Antes da luz??
Por que então eu não posso falar desse mistério? De alguma forma EU posso interpretar o UNIVERSO por meio das minhas experiências.

Então a ciência, bola as teorias atuais, como as partículas de bóson, ; mas, se não existir a partícula, vão ter que reformular a teoria do Big Ben, que é fundamentada nisso.

O filósofo faz exatamente a mesma coisa: bola uma teoria, para poder fazer uma síntese de toda a vida, e, como a vida é um laboratório riquíssimo, pode testar a sua teoria na vida, na própria vida. E daí, reformular seus conceitos.

Achar o justo meio. A justiça. Para isto, a vida é um laboratório riquíssimo. Então agora eu posso traduzir ideias em conceitos e conceitos em experiência. Essa é a essência da Filosofia à Maneira Clássica. Uma concepção que se vive, se experimenta.

Essa concepção, que visa a união de todas as coisas, é a ética. É uma relação perfeita entre os seres humanos, uma relação perfeita do homem com ele, a relação perfeita do homem com o universo. A experimentação disso, para ver se eu estou de fato correto e para que eu na minha vida ganhe harmonia, se chama MORAL.

Então eu tenho ferramentas precisas para poder vivenciar a filosofia. Por isso nossa proposta é de vivência da filosofia, e não de conhecimentos intelectuais sem utilidade.
É a verdadeira educação. É ensinar a pessoa a pensar de tal forma que ela pode tirar de dentro dela. Trazer suas ideias para o concreto. Sócrates pegava qualquer ser humano e, quando começava a dialogar com ele, o levava a falar sem preconceito sobre a justiça. A pessoa demonstrava saber exatamente o que é justiça.

Ou seja, dentro do ser humano há toda a possibilidade de compreensão dos mistérios profundos. Basta que aprenda a pensar novamente. Basta que saia do dogmatismo, de achar que só a religião pode interpretar, só a política ou só a ciência pode interpretar. Nós podemos interpretar a realidade. Isso é eduzir (raiz etimológica de educação), tirar de dentro.

Depois de tirarmos de dentro e experimentarmos, precisamos saber transformar as nossas experiências de vida em faculdades, em conhecimentos que nos ajudem a fazer a síntese da vida. Eu teria que transformar as experiências concretas em conhecimentos ou faculdades da alma. Isto seria, para o filósofo, o sentido da vida.

O sentido da vida não é fazer coisas, mas fazer com que o homem
chegue cada vez a um grau mais elevado de sabedoria, para que ele possa cada vez mais aproximar-se dos mistérios da vida. Que saiba interpretar os mistérios da vida.

Fazemos então essa passagem interessante pelo intelectual acadêmico, que é a primeira parte do nosso curso. A primeira parte do nosso curso é mais dialética, mas se eu não levar essa dialética à pratica, nunca vou ter um conhecimento profundo.
A filosofia se fundamenta muito no senso comum, por isso que qualquer pessoa pode ser filósofo.

E o senso comum me mostra que uma pessoa que não vivencia aquilo que pensa, na verdade não sabe. Então não basta  só conhecimento acadêmico. Tem que ser um conhecimento vivencial prático. Se vocês pegarem, como exemplo de senso comum:, uma pessoa que fez medicina e tirou 10 na melhor faculdade de medicina do mundo, mas que nunca operou ninguém, só frequentou a faculdade – acontece queas foi o melhor aluno do mundo. Se você pudesse optar com alguém com conhecimento só intelectual, ou com muita prática,, você operaria com essa pessoa para ela fazer a primeira experiência em você? Difícil, não é?

Nós estamos exigindo que esse médico tenha experiência pratica. Então não é só o conhecimento intelectual que traz a sabedoria. A sabedoria exige essa passagem pela vida. Para ter conhecimento prático, a pessoa vai ter que ter motivações, vai ter que gostar do que faz, por exemplo trabalhar dia e noite num hospital, aí ele cria motivações e cria o aprendizado. Ele vai ter que ter um bom conhecimento psíquico, senão ele não criará motivações.

Mas seria suficiente somente o conhecimento intelectual e prático? Ainda não. Temos  que ver como ele se relaciona com o mistério.

Imagina o melhor medico que quando te vai operar, e ele fala que está com um pressentimento que não vai dar certo... O que você exige que ele tenha? Confiança, fé, que ele saiba lidar com os mistérios. Alguma fé ele tem que ter. Ou em si mesmo, ou em alguma coisa sagrada. Algo que possibilite  ele se relacionar com os mistérios, seja por meio da confiança que ele desenvolve em si mesmo (que é a base da filosofia), seja com a confiança em alguma coisa, senão ele não vai lidar com os mistérios da vida.

Quem não lida com os mistérios da vida tem o hábito de se alienar. Então ele cai no existencialismo, que nunca pensa na morte. Até o momento que a morte o pega. Ali ele se assusta e começa a pensar. Aí vem o medo. Normalmente quem não lida com os mistérios da vida é um pouco existencialista, fica em constante movimento. É a vertente religiosa mal trabalhada dentro de nós, esse não saber lidar com os mistérios.

É preciso ter a convicção de que, quando o desconhecido aparecer, eu vou ter a fé de que vou saber o que fazer.

O conhecimento tem elementos teóricos, práticos e convicções, segurança, fé. Isso nós temos que desenvolver. Essa é a função da educação. As experiências de vida deveriam poder nos transformar em pessoas com capacidade de dominar as circunstâncias e a nós mesmos; pessoas capazes de lidar com a realidade dentro e fora de nós. Nos viemos à vida para crescer como seres humanos. A natureza já fez coisas muito perfeitas.

Tudo o que fazemos na vida é um aprendizado, uma oportunidade de conhecimento.
 Toda a experiência de vida, então, faz sentido, porque me faz crescer de alguma forma. Posso integrar todas as experiências da vida: as mais belas e as mais difíceis. As mais difíceis costumam fazer muito mais sentido. Se eu quero chegar à sabedoria, ou seja, ter uma relação perfeita comigo mesmo, com as pessoas e com o universo, eu tenho que aprender alguma coisa com cada atitude da vida. Ou seja, preciso ter um grau de sabedoria.

Então a sabedoria como arquétipo está lá no final, mas está também aqui e agora.
Exemplo: “eu vou à praia simplesmente para curtir”. Com a busca da sabedoria, eu vou curtir também, mas posso aprender muita coisa.

No trabalho, por exemplo: trabalho para ganhar a vida, mas posso tb aproveitar muito mais, nas relações com as pessoas, com o local, etc.

Estas são faces em que podemos traduzir a realidade.

O Universo não pode ser interpretado somente por meio da lógica. Ex: tente interpretar logicamente uma sinfonia, um vaso de flor, um pôr do sol. síntese Essa síntese de que falamos  não necessita de uma lógica – a capacidade de lidar com os mistérios, sem precisar de lógica e de mais nada, coloca-nos frente aos mistérios da vida.

Então Filosofia à Maneira Clássica é um conjunto de conhecimentos que nos ajuda a interpretar a vida. Para fazer disso uma faculdade para a nossa alma.

É um conhecimento para o crescimento da nossa alma. Antigamente esse conhecimento que possibilitava transformar conhecimento em faculdade das alma era chamado de ócio. Mas como somos muito materialistas, nós interpretamos que o ócio é não fazer nada. Então o nosso ócio habitualmente é churrasco no final de semana. Nem cresce a vida interna nem a vida externa. Só crescesó a barriga e a preguiça.

O nosso sistema de educação treinou o homem para fazer coisas e não para crescer como ser humano. Está criando máquinas de produção.


ESTRUTURA DO CURSO DE FILOSOFIA

Dentro do curso, estes elementos são colocados em 3 matérias básicas:

Ética. Oonde vamos lidar com muitos conceitos importantes, para podermos ter uma linguagem em comum, para que possamos fazer um diálogo numa mesma língua. Também vamos estudar pontos de vista do Oriente, que explicam todos os fenômenos que não são abrangidos pelo conhecimento ocidental, para que possamos ter uma visão mais ampla das possibilidades do ser humano); 

Outra matéria é

Sociopolítica: se eu tenho a unidade dentro de mim, agora tenho que aplicar dentro da sociedade. A sociedade para um filósofo é como se fosse um grande ser humano, um grande corpo humano. Se entendêssemos profundamente o corpo humano, veríamos como as mesmas leis funcionam na sociedade. Por exemplo imaginar que uma célula não compete com outra; elas colaboram entre si). Podemos pensar que o sistema de competição, então, não é tão bom quanto se imagina.

O sistema de competição costuma ser bom para os fortes. No reino animal isso é fantástico, mas no reino humano não é muito justo.
Talvez no reino humano a lei seja não a competição, mas a colaboração.

Porque os seres humanos gostam de colaborar. Dentro da sSociopolítica nós poderíamos criar uma unidade entre os seres humanos (do mesmo modo que criei para mim mesmo.

Desde o inicio estamos falando de uma unidade, da busca de uma síntese. Eu vou aplicar essa unidade dentro de mim, para ver se funciona dentro e fora. Disso parte o conceito de estarmosm em busca de uma fraternidade universal.

E como vamos fazer tudo isso?

Vamos pegar uma base do passado. É importante que todo o filósofo saiba entrar no passado e trazer ao presente.

Como entrar no passado sem ser enganado pelos historiadores ou por mim mesmo?

Exemplo comum: “Roma tem muita coisa para ensinar, mas tem escravos.” Ou seja, a pessoa só vê a questão dos escravos, o preconceito não deixa ver mais nada. Um filósofo não pensa assim. Ele tem o direito de interpretar a História e ele não tem preconceito. Mas como vai interpretar a História? Tem uma matéria sobre isso que se chama

Filosofia da História

Como entrar na História e coletar o melhor da experiência humana e trazer para o momento atual e aplicar esse conhecimento no momento atual? Aí a Filosofia da História. Como fazer da História uma via riquíssima de conhecimento, sem cair nos preconceitos? Por exemplo, como poder estudar um obra histórica, escrita por um líder religioso, que tem uma visão religiosa , pegando o que tem de bom e esquecendo o preconceito religioso daquela pessoa. E assim por diante.
A História tem normalmente uma componente objetiva, que é o fato e a componente subjetiva, que é quem interpreta o fato. Essa componente subjetiva me faz tirar muito proveito dos fatos históricos. Essa componente subjetiva  normalmente é estudada na Mitologia. Exemplo: “me diga como são as crenças dos povos e eu te falo como eles interpretam a realidade” – assim falam os cientistas da Filosofia da História.

Outro exemplo: os EUA fizeram a guerra do Iraque em nome da liberdade, da livre competição, da democracia = este é o mito usado. A base de crença de um povo, o que o leva a mover.

Assim como os que explodiram as torres, que também têm os seus mitos.

Há mitos altamente destrutivos. É preciso, então, entender não só os fatos históricos, mas os motores desses fatos. Isso é a base da Filosofia da História. Entender os fatos e os motores que moveram os fatos, ou seja,. os mitos que estão por trás dos fatos.

Com essas três matérias, abrem-se possibilidades de etapas mais avançadas nos estudos da Nova Acrópole.

Depois, não é questão de fazer as matérias, é questão de vivenciar.

Embora a Nova Acrópole ofereça boas condições, mesmo quando a gente termina uma faculdade, por exemplo faz-se um estágio supervisionado. NA faz a mesma coisa.

Propomos uma convivência entre nós, além da sala de aula, fazendo trabalhos conjuntos, de tal maneira que as pessoas mais experientes ajudam os outros a traduzir os conceitos numa visão pratica; a fim de que ela possa extrapolar mais esse conceito na sua vida pessoal.

Esse é o estágio de laboratório. NA tem a proposta não só de ensinar o conceito, mas ensinar a pessoa a vivenciar o conceito. Criando situações, para que o aluno, junto com uma pessoa experiente, possa vivenciar as coisas.

Isso gasta tempo. O conhecimento tem que ser integrado. O conhecimento é muito parecido com a comida. O que se integra é o que conta para o organismo. Se eu tenho conhecimento mas não o integro, se ele não passa a ser uma forma de conduta–  significa que ele não serviu de nada. Os instrutores de Nova Acrópole são alunos da Nova Acrópole, com experiência, pessoas que vivem a filosofia e fazem dela uma forma de vida. São todos voluntários, que querem passar esse conhecimento.

A escola é organizada e dirigida pelos próprios alunos, a mensalidade é somente para manter a escola.

A nossa proposta é uma outra visão do ser humano. Como dissemos, o ser humano não veio para fazer coisas, veio para um dia chegar a um grau de sabedoria que na história passada chamávamos de divinos.

A ciência atual diz que o homem deriva do animal.
Para a Filosofia os ciclos do tempo são diferentes. A ciência não imagina o que vai ser para o homem depois do humano. Ela pensa que depois ele vai ser um grande cientista.  Exatamente como em Roma: o homem  também romano também imaginava o homem do futuro, só que, no seu caso, esse homem teria uma carroça com 800 cavalos) . Ou seja, nós projetamos o futuro a partir do ponto em que nos encontramos.

Uma pergunta. Quem é humanamente mais evoluído: um cientista brilhante, mas mau caráter e bandido, ou uma pessoa que não sabe nada de tecnologia, mas é bondosa, honesta, caridosa. O mais evoluído, sob o ponto de vista humano, o esse homem mais humilde.

A nossa concepção do desenvolvimento humano não é técnica. É a capacidade de unificar as coisas, unificar seres humanos, ele estar em paz consigo mesmo, unificar ele próprio com os mistérios.

O nosso sistema de estudo não ensina o homem a ser humano, ensina a homem a ser tecnicamente bom, a ser produtivo. Nós queremos uma nova visão do ser humano. Que essa nova visão crie novos indivíduos.

Não é uma questão de aplicar nos nossos governantes, é questão de aplicar em nós mesmos. E, a partir disso, haverá uma nova visão do mundo, de tal maneira que constitua uma nova sociedade.

Essa é a proposta da Nova Acrópole, e convidamos vocês a fazerem os nossos cursos.

2 comentários:

  1. Gostei da exposição. Vi o vídeo todo. Na qualidade de Prof. de Filosofia gostaria de conhecer mais o projecto da nova acrópole.

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    1. Olá Anastácio!

      Que bom que gostou. Você pode encontrar mais informações sobre nossa proposta e atividades, bem como a agenda cultural de nossas diversas unidades no Brasil e no Mundo em nosso site www.acropole.org.br

      Qualquer dúvida ou sugestão estaremos à disposição!
      brasilia@acropole.org.br

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