Mestre Kong (ou
Confúcio) foi um pensador e filósofo chinês que viveu entre 551 a.C. e 479
a.C.. Sua filosofia tem robustos pilares em uma moralidade pessoal, a qual, por
sua vez, reflete diretamente em uma moralidade governamental, calcada na
justiça das relações sociais. Um ensinamento atribuído ao mestre diz que “você
não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde
quer”.
Trata-se de uma
máxima facilmente apreendida por velejadores. Eles bem sabem que para chegar ao
destino programado o segredo reside em ajustar as velas do barco de acordo com
o vento que se apresente na rota preestabelecida. Quando tratamos de esporte de
alto nível, vemos em uma Olimpíada o árduo trabalho necessário a um velejador
para alcançar o pódio. São várias regatas, cada qual com diferentes tipos de
vento que exigem do velejador, primeiramente, muito conhecimento. Aliado a esta
base estruturante devem estar presentes virtudes necessárias como inteligência,
foco, força, agilidade, capacidade de adaptação, dentre outras mais.
A vida é um velejar.
Nosso corpo é nosso barco, no mar da vida. Nós somos os velejadores, cujo livre
arbítrio nos foi presenteado. Daí surgem importantes questões. Traçamos o
destino de nosso barco ou estamos à deriva, à sorte das marés? Se traçamos o
destino, nos capacitamos com conhecimentos estruturantes para a navegação? Se
também positiva a resposta, temos trabalhado as virtudes necessárias ao velejo?
Em “A Odisséia”,
narrativa épica em forma de poesia, datada de mais de 3.000 anos, Homero nos
conta a saga de Odisseu, que, em seu retorno para Ítaca (seu destino), não
cedeu ao canto e encantos das sereias (desejos, prazeres etc), em seu velejo.
Devidamente alertado pela deusa (seu Eu interior) e conhecedor da natureza
frágil do homem (conhecimento estruturante), antecipou-se e tapou os ouvidos de
seus companheiros marinheiros e amarrou-se à estrutura do barco (atitude
virtuosa), quando da passagem pela perigosa região do mar, exatamente para não ceder
e esses cantos e encantos das sereias. Com isso, pôde alcançar seu destino
final (Ideal de vida).
Como se vê, foi
necessário a Odisseu criar as condições favoráveis para alcançar seu destino
final, sua casa, seu Eu...
Nessa mesma linha de
raciocínio, Huberto Rohden (1893-1981), filósofo, educador e escritor
brasileiro contemporâneo de um expoente e grande pensador da Humanidade chamado
Einstein (1879-1955), nos conta que esse gênio tinha como princípio fundamental
da sua Matemática “estabelecer condições favoráveis para que a causa possa
funcionar. As condições são do homem, mas a causa é do Cosmo”. Noutras
palavras, Einstein, por meio de seu método “a
priori-dedutivo” ou “intuitivo” (e não a
posteriori-indutivo ou “analítico”), também entendia que o conhecimento do
Universo (destino final) era captado somente por aqueles que estabeleciam,
racionalmente, condições favoráveis para esta captação.
Em nossas relações
cotidianas intuímos e procuramos realizar o nosso melhor, como corolário do Bem
(pelo menos assim deveria sê-lo). Mas o Bem só se manifesta se criarmos as
condições necessárias para que ele assim o faça. É o que nos ensina o Bhagavad
Gita quando diz que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. É isso
que nos ensina a tradição cristã, quando diz que “quando o homem tem fé, Deus
lhe dá a graça”.
Assim, podemos (e devemos!)
entender e cumprir nosso destino, como seres livres, se, como Einstein e
Odisseu, criarmos condições favoráveis a isto, qualquer que seja nossa área de
atuação. Conhecimento estruturante aliado à prática de virtudes próprias do ser
humano nos habilitam a reconhecer e chegar a esse destino, de forma consciente.
Mas isto exige diuturno aprimoramento, ou seja, ajuste diário em nossas velas
de navegação, como nos professou Confúcio...
Delano Lisboa
Membro voluntário de Nova Acrópole
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