segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sobre o Mar da Vida e a navegação




Mestre Kong (ou Confúcio) foi um pensador e filósofo chinês que viveu entre 551 a.C. e 479 a.C.. Sua filosofia tem robustos pilares em uma moralidade pessoal, a qual, por sua vez, reflete diretamente em uma moralidade governamental, calcada na justiça das relações sociais. Um ensinamento atribuído ao mestre diz que “você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”. 


Trata-se de uma máxima facilmente apreendida por velejadores. Eles bem sabem que para chegar ao destino programado o segredo reside em ajustar as velas do barco de acordo com o vento que se apresente na rota preestabelecida. Quando tratamos de esporte de alto nível, vemos em uma Olimpíada o árduo trabalho necessário a um velejador para alcançar o pódio. São várias regatas, cada qual com diferentes tipos de vento que exigem do velejador, primeiramente, muito conhecimento. Aliado a esta base estruturante devem estar presentes virtudes necessárias como inteligência, foco, força, agilidade, capacidade de adaptação, dentre outras mais.

A vida é um velejar. Nosso corpo é nosso barco, no mar da vida. Nós somos os velejadores, cujo livre arbítrio nos foi presenteado. Daí surgem importantes questões. Traçamos o destino de nosso barco ou estamos à deriva, à sorte das marés? Se traçamos o destino, nos capacitamos com conhecimentos estruturantes para a navegação? Se também positiva a resposta, temos trabalhado as virtudes necessárias ao velejo?

Em “A Odisséia”, narrativa épica em forma de poesia, datada de mais de 3.000 anos, Homero nos conta a saga de Odisseu, que, em seu retorno para Ítaca (seu destino), não cedeu ao canto e encantos das sereias (desejos, prazeres etc), em seu velejo. Devidamente alertado pela deusa (seu Eu interior) e conhecedor da natureza frágil do homem (conhecimento estruturante), antecipou-se e tapou os ouvidos de seus companheiros marinheiros e amarrou-se à estrutura do barco (atitude virtuosa), quando da passagem pela perigosa região do mar, exatamente para não ceder e esses cantos e encantos das sereias. Com isso, pôde alcançar seu destino final (Ideal de vida).

Como se vê, foi necessário a Odisseu criar as condições favoráveis para alcançar seu destino final, sua casa, seu Eu...

Nessa mesma linha de raciocínio, Huberto Rohden (1893-1981), filósofo, educador e escritor brasileiro contemporâneo de um expoente e grande pensador da Humanidade chamado Einstein (1879-1955), nos conta que esse gênio tinha como princípio fundamental da sua Matemática “estabelecer condições favoráveis para que a causa possa funcionar. As condições são do homem, mas a causa é do Cosmo”. Noutras palavras, Einstein, por meio de seu método “a priori-dedutivo” ou “intuitivo” (e não a posteriori-indutivo ou “analítico”), também entendia que o conhecimento do Universo (destino final) era captado somente por aqueles que estabeleciam, racionalmente, condições favoráveis para esta captação.

Em nossas relações cotidianas intuímos e procuramos realizar o nosso melhor, como corolário do Bem (pelo menos assim deveria sê-lo). Mas o Bem só se manifesta se criarmos as condições necessárias para que ele assim o faça. É o que nos ensina o Bhagavad Gita quando diz que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. É isso que nos ensina a tradição cristã, quando diz que “quando o homem tem fé, Deus lhe dá a graça”.

Assim, podemos (e devemos!) entender e cumprir nosso destino, como seres livres, se, como Einstein e Odisseu, criarmos condições favoráveis a isto, qualquer que seja nossa área de atuação. Conhecimento estruturante aliado à prática de virtudes próprias do ser humano nos habilitam a reconhecer e chegar a esse destino, de forma consciente. Mas isto exige diuturno aprimoramento, ou seja, ajuste diário em nossas velas de navegação, como nos professou Confúcio...  


Delano Lisboa
Membro voluntário de Nova Acrópole

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