segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Ser Humano: o Agente da História


Em várias unidades da Nova Acrópole no Brasil, tivemos a oportunidade de dedicar um dia especial à “Arte no Renascimento”. Deliciamo-nos com o estudo de algumas das grandes obras artísticas de vários gênios da humanidade. E pudemos investigar mais a fundo quais foram os motores ocultos por trás dessa grande Revolução Cultural que se deu na Europa entre os séculos XV e XVI.

O Renascimento provocou transformações nos cânones artísticos, no desenvolvimento científico e na concepção religiosa e política. Um período de crise, de mudança de todo o tipo que marcou a passagem da chamada Idade Média à Idade Moderna.

Mas o nosso interesse, como filósofos, é de transpassar a mera superficialidade dos acontecimentos e lançarmo-nos às raízes dessas transformações. Pois se soubermos desvelar quais foram as potências que ativaram o Renascimento, seremos capazes de gerar mudanças no nosso momento atual.

Ao investigar os motores por trás dos Renascentistas, encontramo-nos com a Filosofia.

“A Filosofia está presente tanto nas obras dos historiadores como nas dos educadores e dos teóricos políticos, nos tratados de arquitetura como nas obras de medicina e nos livros sobre a arte da pintura… Confunde-se com o pensamento matemático e astronômico…” (Jean-Françoise Revel)

A Filosofia aparece como um laço comum que unifica as várias expressões do fenômeno renascentista. Por trás dos grandes avanços realizados, encontramos uma semente, uma chave oculta, que impulsionou o homem à transformação: o Amor à Sabedoria.

Encontramos a busca filosófica, o despertar para a Filosofia com atitude de vida e de ação, para além da mera especulação mental e discussões teoréticas.

O Homem renascentista não é um mero espectador, mas participa em todos os campos da vida. De espectador passivo, encerrado em si mesmo, submetido a uma ordem imposta, torna-se ator e criador num mundo dinâmico, com infinitas possibilidades.

O homem deve tornar-se o Agente da História, ou cumpre o seu destino de protagonista ou deixa de “ser” historicamente: “Quando a vontade humana se sublima, vencendo o animal, dentro e fora de si, na vida privada e na vida pública, o homem transforma-se no agente consciente da História e realiza-a.” (Cícero).

O Ideal humanista do Renascimento visa um homem livre e criador, desenvolvendo o poder moral e espiritual sobre si mesmo. Uma liberdade e poder que não podem distanciar-se das Leis Naturais, das forças celestes, das influências divinas que se expressam em todo o Cosmos, nas diferentes facetas da Natureza.

O Humanismo é uma escola para uma nova educação do homem, sem preconceitos, livre de toda a rigidez mental. Trata-se de uma Educação Ativa, para transformar o homem e o mundo. Dessa vontade nasce o Renascimento, “da necessidade de combinar uma cultura sapiente com uma arte de ação na cidade, fazendo o filósofo um cidadão”.

E há que beber das fontes, ir as origens… de Zoroastro a Plotino, Hermes Trimegisto, Pitágoras, Cícero e Platão. O Renascimento resgata as Tradições, pois como ensinava Ficino, o contato com os Mestres produz um efeito estimulante que nos motiva a conquistarmo-nos: “Pergunto-me, de que serve conhecer a natureza dos animais ferozes, dos peixes e das serpentes, se se ignora ou não se tenta saber qual é a natureza do homem, porque nascemos, de onde viemos e para onde vamos?” (Petrarco)

Busca-se a dignidade e o sentido de vida do homem; a sua liberdade e responsabilidade num universo ordenado. O ser humano possui o poder de interferir na Natureza. Por isso, a importância de se formar a si mesmo, compreender as leis e colaborar com o Todo.

No seu Discurso sobre a Dignidade do Homem, Pico della Mirandola, filósofo renascentista, descreve o lugar do homem em palavras que atribui a Deus: 
“Não te dei, Adão, nem um lugar fixo, nem um aspecto que te seja próprio, nem privilégio particular algum, de maneira a que o lugar, o aspecto, os privilégios que possas desejar, obtenhas e guardes segundo o teu desejo e o teu sentimento. 
A natureza bem definida das demais criaturas está aprisionada pelas leis que ditarmos.  
Mas tu, que não és prisioneiro de nenhuma constrição, tu determinarás a tua natureza segundo teu próprio livre arbítrio, pois entre as tuas mãos te foi colocado.

Coloquei-te no meio do mundo para que, daí, possas perceber melhor tudo o que está no mundo. 
Não te fiz nem celeste, nem terrestre, nem mortal, nem imortal, para que livre senhor e escultor de si mesmo, possas esculpir segundo a forma que terás escolhido. 
Poderás degenerar e cair até os seres inferiores que são as bestas. 
Poderás, se assim o decidires, regenerar-te e alcançar os seres superiores que são divinos.”
Segundo o citado filosófico, o homem é um camaleão. Pode eleger entre o bem e o mal, tem a responsabilidade de sofrer as suas ações.

Não basta ter nascido um homem, sua humanidade não é obtida pelo nascimento, há que educar-se, construir-se, crescer como Ser Humano para exercer a sua condição de Cidadão do Mundo.

Esse é o chamamento renascentista. Extremamente atual. Ninguém pode negar que o nosso mundo necessita de mudanças. Necessita de homens e mulheres conscientes, ativos, responsáveis pelo seu destino histórico.

As grandes Revoluções não se deram por acaso, mas por esforços conjuntos de grandes e pequenos indivíduos que são capazes de mirar juntos numa mesma direção. Que são capazes de compreender que a História quem a realiza é a própria Humanidade.

Somente como protagonistas, como verdadeiros Agentes da História, cumpriremos com a nossa finalidade cósmica e teremos um mundo mais próximo dos Ideais Humanos. E assim, no final da vida, na satisfação do dever cumprido, poder tomar para si a frase do poeta: ”…porque vejo no fim do meu rude caminho que fui eu o arquiteto de meu próprio destino.”

Alice Amaral

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