Em nossos
dias, muitas propostas têm sido feitas em nome da felicidade humana: o carro do
ano, a roupa da moda, “ser a bola da vez”...
A viagem dos sonhos, o cargo mais importante, o salário mais cobiçado, o
chefe mais camarada, o parceiro(a) ideal, os filhos ideais... Para cada necessidade
humana, uma solução à pronta entrega. Mas, chega um momento que o ser humano se
pergunta: há algo mais? Será que sabemos
de fato quem somos nós e o que nos torna plenos de realização e bem estar
apesar de tantas circunstâncias vividas?
Olhamos para
todos os lados e nenhuma resposta esperançosa ou no mínimo otimista nos é
apresentada. E o mercado nos exige muito, disso ninguém duvida. Em tempos
modernos como o nosso, temos aprendido a importância de termos muitas
capacitações em nosso currículo. Os sábios da história também sugeriram uma
dose fundamental de capacitação, mas de uma forma diferente, falavam sobre o
coroamento de todas as suas conquistas pessoais como a Humanização de si mesmo.
Dizia a
inscrição grega na região de Delfos: “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e
conhecerás o homem e o universo.” E isto significava sair dos velhos esquemas e
tabus, libertar-se das mecanicidades da vida, dos preconceitos individualistas
e lançar-se ao mundo com o olhar de um homem integrado a uma realidade maior
que ele próprio. Seria esta que o possibilita conhecer quais são suas dores e
sentimentos mais caros a fim de transmutá-los ou ampliá-los; esta sabedoria
simples da vida que possibilita ouvir e às vezes calar-se; que o sensibiliza
acerca da presença do outro e qual o melhor momento para aproximar-se ou
manter-se apenas em vigília. Falavam-nos da outrora esquecida Arte de Viver e
deixar viver, conhecer e deixar-se conhecer, amar e deixar-se amar.
Talvez hoje o
que nos falte seja justamente este momento cerimonial de contato conosco mesmos
para sabermos quem realmente somos... Assim, como aconselha o Pequeno Príncipe
na obra de Saint-Exupéry: cativar, criar laços. Primeiramente é fundamental um
reconectar-se consigo mesmo para então poder perceber o brilho nos olhos
daquele que nos cerca, bem como a natureza que nos brinda todos os dias com um
novo leque de possibilidades.
Falta-nos
resgatar estes instantes de silêncio, momentos de paz depois de tanta guerra
cotidiana por sobrevivência. Faltam momentos para uma boa leitura, um banho que
lave o corpo e a mente, um passeio no parque... Segundos que sejam, envolvidos
pela candura das crianças ou a suave nostalgia dos mais velhos. Talvez nos faça
falta ouvir a orquestra da natureza em meio à nossa selva de pedras... Porque o
mundo não para apesar de nossos problemas... E continua tão belo.
Platão sempre
dizia que não havia nada mais belo na vida do que ser útil... Ter algo a
oferecer -- fosse um sorriso, um gesto ou ainda uma presença silenciosa. Tudo
na natureza oferece seu melhor. O que poderá oferecer o homem à vida sem ter
que sentir que perdeu algo? Como doar e sentir-se pleno com isso, fonte de mais
vida? Dizia ele, que quando agisse em conformidade com sua natureza mais
humana, que mais o aproximasse de suas divinas virtudes, o homem encontraria a
si mesmo.
Quanto a isso,
em todas as tradições vamos ver histórias, fábulas e mitos de um herói que
imbuído de boa vontade e motivado por uma aventura idealista, lança-se ao mundo
em prol da Justiça, do Amor e da Bondade. Seus desafios começavam ou
desembocavam diante de um dragão, uma floresta, um labirinto, um submundo... Enfim,
uma gama de elementos simbólicos que convergem a essa busca pelo ser interior
do homem. Vencidos os desafios mais audazes, os medos mais paralisantes, as
dúvidas mais estagnadoras, as emoções mais frias e rancorosas, seguiam eles
triunfantes para a maior de todas as conquistas: sua própria imortalidade.
Parece-nos
fantástico ouvir um conselho de historietas que nos sugerem alcançar o
inalcançável... Mas quem disse que não podemos? Ao ouvirmos uma voz insistente
que latente em nosso peito parece não descansar, alcançamos um pedacinho desta
imortal heroicidade de simplesmente Viver, pois como diria a poetisa: o difícil
se consegue, o impossível se tenta cotidianamente.
Priscila
Pires, professora de Nova Acrópole / www.acropole.org.br
Obrigado por isso! :)
ResponderExcluirBelíssimo texto.Eu encontro muitos ignorantes,mas pouquíssimos filósofos em meu caminho.
ResponderExcluirAgradeço por iluminar meu dia,mesmo que por um breve instante.
Pequeno pedaço de tempo que vale por uma eternidade.