sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um pouco de Educação, por favor...




Ante os graves problemas que enfrentamos hoje, como a assombrosa escalada de violência, os elevados níveis de corrupção, e a degradação física e moral causados pelo uso de entorpecentes cada vez mais destrutivos, é necessário refletirmos sobre as causas de tão alarmante situação, sem par na história recente, como atestou a ONU neste mês de novembro, ao revelar que a América Latina vive uma epidemia de violência sem precedentes em 11 de seus 18 países, incluindo o Brasil.


É bem evidente a associação entre educação e desenvolvimento social, estabilidade econômica, qualidade de vida, e muitos outros aspectos positivos que podemos ter em nossa sociedade, pois vemos isso em alguns países. Um nível elevado de educação tem como consequência baixos níveis de violência e também de muitas outras mazelas.
Mas menos evidente, e muitos já nem pensam sobre isso, é a relação entre a educação e o caráter, os valores humanos, a honestidade etc.
Acredito que até podemos nos perguntar: Sabemos realmente o que é educação?
Em sua origem etimológica, a palavra educação nasce do latim educere, que significa “conduzir para fora”, ou “extrair de dentro”, nos remetendo à ideia de que, mais do que inculcar ideias ou conhecimentos, a educação, em seu conceito original, diz respeito a fazer com que o indivíduo extraia de dentro de si mesmo o que de melhor ele possua, e que podemos exemplificar em conceitos como os de vocação (de vocatio, chamado interno) e virtude (de virtus, uma inclinação ao bem). A educação constrói  com esses elementos o que compreendemos como caráter.
Num excelente artigo publicado em 2009, intitulado “A Morte da Confiança”, o economista americano Sin-ming Shaw tratou de encontrar a causa do colapso econômico que abalou o mundo no ano de 2008, e que levou milhares de empresas à falência, levando para as ruas milhões de desempregados.
Após uma análise, ele chega à conclusão de que a causa está justamente no formato educacional instituído no mundo moderno, tão bem exemplificado pelas grandes universidades, que, ao focar seus estudos excessivamente no conhecimento técnico ou intelectual, deixaram de lado o aspecto mais importante da formação humana, sua integridade moral.
Ele chega a isso após constatar que foram as ações criminosas de dirigentes de grandes corporações financeiras e multinacionais, graduados com alto conceito em famosas universidades, os responsáveis pelo colapso das instituições que deram início ao efeito dominó que se seguiu.
Shaw ainda nos alerta para o fato de que a morte da confiança em nossos líderes, a cada dia menos confiáveis, só pode resultar em desastre para nossa civilização. Pois é justamente a confiança, uma virtude humana, o que sustenta a economia, e também a família, as igrejas, as relações de amizade, e tudo mais que constitui a civilização.
Vemos assim que não é sem razão que os antigos filósofos diziam que, antes de ensinar a um homem uma profissão ou dar-lhe qualquer responsabilidade social, primeiro se deve despertar nele os valores humanos, que estão latentes dentro de todos nós, esperando que os façamos vir à tona. É este  o principal papel da filosofia.
Não há mais tempo para esperar, o tempo urge, e devemos exigir isso de nossos líderes:
Um pouco de verdadeira educação, por favor...


Jean Cesar Antunes Lima
Professor de filosofia em Nova Acrópole
jeancesaral@gmail.com



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