Ante os graves problemas que
enfrentamos hoje, como a assombrosa escalada de violência, os elevados níveis
de corrupção, e a degradação física e moral causados pelo uso de entorpecentes
cada vez mais destrutivos, é necessário refletirmos sobre as causas de tão
alarmante situação, sem par na história recente, como atestou a ONU neste mês
de novembro, ao revelar que a América Latina vive uma epidemia de violência sem
precedentes em 11 de seus 18 países, incluindo o Brasil.
É bem evidente a associação entre
educação e desenvolvimento social, estabilidade econômica, qualidade de vida, e
muitos outros aspectos positivos que podemos ter em nossa sociedade, pois vemos
isso em alguns países. Um nível elevado de educação tem como consequência
baixos níveis de violência e também de muitas outras mazelas.
Mas menos evidente, e muitos já nem
pensam sobre isso, é a relação entre a educação e o caráter, os valores humanos,
a honestidade etc.
Acredito que até podemos nos
perguntar: Sabemos realmente o que é educação?
Em sua origem etimológica, a palavra
educação nasce do latim educere, que
significa “conduzir para fora”, ou “extrair de dentro”, nos remetendo à ideia
de que, mais do que inculcar ideias ou conhecimentos, a educação, em seu
conceito original, diz respeito a fazer com que o indivíduo extraia de dentro
de si mesmo o que de melhor ele possua, e que podemos exemplificar em conceitos
como os de vocação (de vocatio, chamado
interno) e virtude (de virtus, uma inclinação
ao bem). A educação constrói com esses elementos o que compreendemos como
caráter.
Num excelente artigo publicado em
2009, intitulado “A Morte da Confiança”, o economista americano Sin-ming Shaw tratou de
encontrar a causa do colapso econômico que abalou o mundo no ano de 2008, e que
levou milhares de empresas à falência, levando para as ruas milhões de
desempregados.
Após uma análise, ele chega à
conclusão de que a causa está justamente no formato educacional instituído no
mundo moderno, tão bem exemplificado pelas grandes universidades, que, ao focar
seus estudos excessivamente no conhecimento técnico ou intelectual, deixaram de
lado o aspecto mais importante da formação humana, sua integridade moral.
Ele chega a isso após constatar que
foram as ações criminosas de dirigentes de grandes corporações financeiras e
multinacionais, graduados com alto conceito em famosas universidades, os
responsáveis pelo colapso das instituições que deram início ao efeito dominó
que se seguiu.
Shaw ainda nos alerta para o fato de
que a morte da confiança em nossos líderes, a cada dia menos confiáveis, só
pode resultar em desastre para nossa civilização. Pois é justamente a
confiança, uma virtude humana, o que sustenta a economia, e também a família, as
igrejas, as relações de amizade, e tudo mais que constitui a civilização.
Vemos assim que não é sem razão que os
antigos filósofos diziam que, antes de ensinar a um homem uma profissão ou
dar-lhe qualquer responsabilidade social, primeiro se deve despertar nele os
valores humanos, que estão latentes dentro de todos nós, esperando que os
façamos vir à tona. É este o principal papel da filosofia.
Não há mais tempo para esperar, o
tempo urge, e devemos exigir isso de nossos líderes:
Um pouco de verdadeira educação,
por favor...
Jean
Cesar Antunes Lima
Professor
de filosofia em Nova Acrópole
jeancesaral@gmail.com
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